sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

A propósito do referendo


Porque se vai realizar um referendo à descriminalização do aborto; porque faz este mês 20 anos que o Zeca Afonso morreu. E porque, apesar de ter 30 anos, é fantasticamente actual.


Arcebispíada

Zeca Afonso

Pregais o Cristo de Braga
Fazeis a guerra na rua
Sempre virados pr'ò céu
Sempre virados pr'à Virgem
A Santa Cruzada manda
Matar o chibo vermelho
Contra a foice e o martelo
Contra a alfabetização
Curai de ganhar agora
Os vossos novos clientes
Além do pide e do bufo
Amigos do usurário
Além do latifundiário
Amigo do Capelão
"Abre Nuncio Vade Retro
Querem vender a nação"
"A medicina é ateia
Não cuida da salvação"
Que o diga o facultativo
Que o diga o cirurgião
Que o digam as criancinhas
"Rezas sim, parteiras não"

Se o Pinochet concordasse
Já em Fátima haveria
Mais de trinta mil vermelhos
A arder de noite e de dia
Caridade, a quanto obrigas
Só trinta mil voluntários
"Cristo reina Cristo vinga"
Nos vossos santos ovários
E também nos lampadários
E também nos trintanários
"Abre Nuncio Vade Retro
Querem vender a nação"

Ó Carnaval da capela
Ó liturgia do altar
Já lá vem Camilo Torres
Com o seu fusil a sangrar

Igreja dos privilégios
Mataste o Cristo a galope
Também Franco, o assassino
Mandou benzer o garrote

(do álbum Enquanto há Força, 1977)

Texto excelente


O historiador José Mattoso escreve um texto excelente num blog do Sim.
Profundamente cristão, justifica a sua opção de voto no referendo e cita Cristo. Ainda se arrisca é a ser acusado de blasfémia.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Pelo próprio:
dois poemas de Fernando Assis Pacheco



A Profissão Dominante

Meu Deus como eu sou paraliterário
à quinta-feira véspera do jornal
nadando em papel como num aquário
ejectando a minha bolha pontual

de prosa tirada do receituário
onde aprendi o cozido nacional
do boçal fingido o lapidário
- fora algum deslize gramatical -

receio que me chamem extraordinário
quando esta é uma prática trivial
roçando mesmo o parasitário
meu Deus dá-me a tua ajuda semanal

Fernando Assis Pacheco
A Profissão Dominante, 1982



PRANTO POR MANUEL DOALLO

Podia-se ter esborrachado qualquer 23 de Agosto
véspera do San Bartolomé e ele na moto
correndo de Vitoria para as mozas de Ourense
e para as tazas em que era ainda mais exímio

e deixa-se morrer unha serán poñamos
por caso desolada agora pai de filhos
a última queixa: que lhe doía um braço
en troques há tanto sacana que parece de ferro

vaite ó carallo ó morte que me levas
o meu primo galego Manuel Doallo
morte merdeira
coisa ruim de cinza e névoa e cinza

nem nunca nestas terras se me eu lembro
houve um outro rapaz de tanto garbo
como il que era cáseque um rei e querem
que eu o chore e ao coração coitelo?

barqueira que mo levas puta infame
eu berro e berro à soedá do rio

Fernando Assis Pacheco
A Profissão Dominante, 1982

Referendo «Cuidado com as imitações!»

Sérgio Godinho pôs a circular este comunicado. Urge espalhar a notícia:

ESPALHEM A NOTÍCIA ou CHAMEM A POLÍCIA ?
Acabo de receber, por vários amigos, a notícia: um "blogue do não" usou nas suas páginas uma canção minha, para, em última análise, promover os seus pontos de vista em relaçao ao referendo de Domingo.
Para mim, não é um assunto novo. Muitas vezes, canções inteiras foram usadas em contextos ampliados — e muitas vezes amplificados. E muitas outras se apropriaram de frases minhas para dizer — e pensar — outras coisas. Goste ou não goste (e gosto várias vezes) acho que tudo isso faz parte de qualquer acto creativo. Se não o quisesse expor a esse risco, guardava-o na gaveta.

Só que há limites, claro.

Desde já, neste caso enganaram-se, não só na intenção, mas no próprio título da canção.
Em vez de "Espalhem a notícia" deviam ter posto (e postado) "Chamem a polícia"...
A minha canção é uma elegia à qualidade da vida, e também à alegria consciente de dar à luz um novo ser.
Nada que se pareça com humilhação, falsas promessas de apoio a gravidezes indesejadas, sugestões de trabalho comunitário para substituir penas de prisão, e outra pérolas que tais.
E sim, sim à vida que a canção exalta e reconhece.

Espalhem a notícia.
Sérgio Godinho

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Algarve, Portugal, Summer 2005

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Cecilia Bartoli canta Haydn

Desculpem a insistência, mas a mulher tem uma voz maravilhosa.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

FAP 2007

Fernando Assis Pacheco faria 70 anos no dia 1 de Fevereiro de 2007. Assis Pacheco fará 70 anos a 1 de Fevereiro próximo! E a Casa Fernando Pessoa assinala o aniversário com programação concebida em conjunto com a família de Pacheco, que se estenderá por todo esse mês. Mas quem foi (quem é) Fernando Assis Pacheco? Segue a resposta, antes do programa.

● n. Coimbra, 1.2.1937● filiação, José M. V. Assis Pacheco, médico, e Maria da Conceição Mendes de Assis Pacheco
● casado com Maria do Rosário Pinto de Ruela Ramos A. P. e pai de Rita, Ana, Rosa, Catarina, Bárbara e João R. R. A. P.
● licenciado em Filologia Germânica (Univ. Coimbra, com uma tese sobre Stephen Spencer e a poesia inglesa dos anos 30); breves estudos em Heidelberg, RFA
● em Coimbra: cofundador do CITAC; dos corpos gerentes do mesmo, e da secção de Turismo da AAC; participação em espectáculo do TEUC (no “Retabillo de Don Cristóbal”, de F. Garcia Lorca); bolseiro da secção de Espanhol da Fac. Letras para a Universidade de Verão Menéndez Pelayo, Santander, 1955
tropa, 1961-1965: COM na EPC de Santarém; 1962/63 no RC3 de Estremoz; 1963-65 Angola, no B Cav 437 e depois no QG da RMA
livros: Cuidar dos Vivos, 1963; Câu Kiên: um resumo, 1972; Catalabanza Quilolo e volta, 1976; Memórias do contencioso, 1976; Siquer este refúgio, 1978; Memórias do contencioso (2ª ed. definitiva), 1980; A profissão dominante, 1982; Variações em Sousa, 1984; Nausicaah!, 1984; A Bela do Bairro e outros poemas, 1986; Variações em Sousa (2ª ed., definitiva), 1987; [ Variações em Sousa, 2004; A Musa Irregular (2ª ed.), 1996; Respiração Assistida, 2003; A Musa Irregular (ed. definitiva), 2006 – poesia.] Walt, noveleta, 1978. [Retratos Falados, 2001 – perfis. Memórias de um Craque, 2005 – memórias. Trabalhos e Paixões de Benito Prada, 2002 – romance.] Participação em antologias portuguesas, brasileiras, espanholas e inglesas.
No jornal: redactor de O Jornal a partir de meados de 1979; chefe de redacção do JL; director-adjunto do Se7e; repórter e colunista de livros
Nos jornais: Diário de Lisboa, 1965-1971; República, 1972-74; Diário de Lisboa, 1974-79; Projornal de 1979 em diante. Redactor da revista Ele, com O’Neill e M. H. Leiria, em 1973-74. Breves colaborações no Record (Memórias de um craque) e Notícias da Tarde (Histórias da Civilização), e também no Musicalíssimo (1ª fase), Mais e Diário 16
● Suplente dos corpos gerentes do Sindicato dos Jornalistas e Associação Portuguesa de Escritores
● Esteve em reportagem: Espanha, França, Itália, RFA, Áustria, Chipre, Malta, Bélgica, Suíça, Dinamarca, EUA, Cabo Verde, S. Tomé, Angola, Congo, Zaire, RDA, Brasil

Contava não esticar o pernil antes de 1999, mas tropeçou sem querer [em 1995]

Texto elaborado pelo próprio Fernando Assis Pacheco [acrescentado de actualização bibliográfica] antes de 1991 e entregue, para o que desse e viesse, ao seu amigo e colega Afonso Praça. In Musa Irregular, Edições Asa, 1996.

A iniciativa Universo Pessoal de Fernando Assis Pacheco começa em dia de aniversário, 1 de Fevereiro, às 21h, com a inauguração de uma exposição que reúne objectos pessoais do poeta e jornalista. Confirmadas estão as presenças de João Rodrigues e de Tiago Rodrigues, que com ele privaram, e o actor Diogo Dória fará a leitura de alguns poemas de Assis Pacheco.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Pecado




Decidi reciclar este post, que publiquei, em 2005 no efémero DJ Bonifácio, para dar a conhecer estes três pecadores dão pelo nome de TIGER LILLIES. São cínicos, criativos, divertidos, mordazes e subversivos! Esta faixa é do álbum 2 Penny Opera, de 2001

Aqui têm também a letra.

Bitch

That fucking bitch, she thought
she could get the better of me.
Well if I can't have my Macky,
then why the fuck should she?
I'd rather fuck up others' lives
than let them fuck up mine,
I'd rather see them suffering
than having a good time.
That fucking bitch, she thought
she could steal that man of mine.
Well tomorrow Macky hangs,
he hangs from the line.

Well Macky, I did love you,
I loved you more than she.
That bitch she won't have you
if you won't be with me.

I'd rather watch you drown
than with her watch you swim.
I just can't stand losing you
and let that bitch win!

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Meias

Divirtam-se, juntando-as aos pares. Vale a pena... tem prémio no fim.
Vi a brincadeira em http://www.nobodyhere.com/ e trouxe-a emprestada.Quem não visitar, por uma vez que seja, esse site, nunca ficará a saber o que perdeu.